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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Entrevista com autores #2 - Luciana Bollina

"Meus escritos são as expressões mais profundas da minha alma inquieta que procura se aquietar. Minha escrita me salva e me engrandece."
- Luciana Bollina


Olha só quem eu vou entrevistar hoje: a paulista Luciana Bollina, autora do livro Clarices, publicado em abril de 2013 pela editora Philae.
Sinopse do livro:
Clarice tem 19 anos, é artista plástica e seu maior desejo é conhecer o amor. Na rua, encontra um jovem poeta chamado Gabriel, que vende seus poemas impressos de forma artesanal. Ela se apaixona e ele preenche seu imaginário. A atração parece recíproca, mas Clarice flagra o moço beijando outra mulher, linda e sedutora, entre as prateleiras de uma livraria. Paralelamente, sua mãe e sua irmã aparecem em meio a discussões, confrontos e sustos que fazem com que ela amadureça. 

Luciana, muito obrigado por aceitar o convite para a entrevista. 
Clarices é seu primeiro romance publicado. O que lhe motivou a decidir escrever um livro?
Em 2010 eu passei por um momento difícil. Pedi demissão de um emprego porque eu não estava sendo honesta com meus ideais e meus limites, todos eles já haviam sido ultrapassados. Uma história bem comum no meio das artes. Decepções, frustrações, falta de respeito com quem faz arte, abuso de poder, essas coisas. Resolvi sair do trabalho (com muita dor no coração) e fui revirar meus textos. Há muito tempo já queria escrever um romance, mas nunca tinha parado para dar atenção a isso. Mas achei que alguma ideia iria pular dali e gritar: "Eu, eu!! Me escolhe!!" Achei muitos textos, poesias, contos, crônicas e um conto sobre um poeta que eu havia conhecido. Na vida real, não me apaixonei por ele, mas por sua figura, o que ele poderia ser como personagem, amor ideal de uma heroína minha. Foi aí que criei a Clarice e daquele conto foi surgindo o romance.

Puxa, que bela história de superação. Você já havia tentado publicar um livro antes?
Não. Eu sempre tive blog e diários. Sempre escrevi. Mas nunca havia tentado publicar nada.

Clarice, a personagem da sua obra, é uma artista plástica. Há alguma relação no desenvolvimento da personagem com você mesma?
Sim, com certeza. Eu tenho muitas Lucianas dentro de mim e elas falam comigo. Eu poderia ser tanta coisa. Aliás, todos nós poderíamos ter muitas vidas se escolhêssemos outras portas. A Clarice é uma mistura de uma fase que vivi com algumas tintas que escolhi e a desenhei alguns anos depois. Achei que falar disso seria falar daquilo que eu enxerguei e que poderia fazer outras pessoas enxergarem. Ela também tem muito de algumas amigas e amigos meus, que também considero Clarices. Na verdade o nome é no plural justamente porque não há uma só. Existe um ponto comum que une a Clarice a algumas pessoas: a sensibilidade para se perceber e querer se descobrir, amar o outro e se amar, que acho que é o mais vale na vida.

É muito bom quando podemos nos manisfestar assim. Tantas escolhas que tomamos... Aliás, além de escritora, você também é atriz, produtora, cantora e bailarina. É muito difícil conciliar tudo isso?
Na verdade, Abel, isso tudo está dentro de mim. É quem eu sou. O que é difícil nessa história é conseguir plantar e semear em todas as áreas preservando meus ideais. Conseguir dinheiro para fazer um sonho acontecer. Isso é praticamente um ato heroico pros padrões de burocracia que envolvem a cultura brasileira. Ainda temos que provar para os patrocinadores que investir em cultura é fundamental para o desenvolvimento do país. E isso sim, exige muito esforço, conhecimento de mercado e persistência. Sou de uma geração múltipla. Como eu, existem muitos artistas por aí. Mas ter tantas habilidades exige muita disciplina para conseguir desenvolver todas elas e dentro desse furacão de possibilidades, descobrir o ponto comum entre todas as coisas que faço e perceber quem eu sou como artista.

E como era sua programação para escrever?
Eu escrevia um capítulo por dia. Se eu achava que devia, voltava tudo, relia, melhorava uma coisa ali, outra aqui, mas escrevi rápido, em quatro meses, porque estava com tempo livre, cheia de coisas para refletir e dizer. Era a hora certa.

A inspiração é incontrolável quando vem. Mas o que você achou mais difícil ao elaborar sua história?
A história que envolve a família de Clarice. Principalmente sobre a irmã mais nova dela: a Claudia. Por mais que eu tentasse me afastar de um tipo de moralismo, mais me aproximava dele. Eu não queria vilanizar ninguém na história e fiquei com medo de cair num lugar comum. Mas depois, quando a editora estava revisando meu livro, consegui deixar a Claudia menos vilã e mais humana.
  
Você falou sobre a carência de investimento em cultura no mercado brasileiro. Desde 2010, quando você começou a escrever Clarices até 2013, quando ele foi publicado, teve alguma grande dificuldade que você teve de enfrentar para realizar esse sonho?
Olha, te juro que comigo tudo fluiu muito. Demorou um pouquinho pra sair o livro, mas os contatos que fiz, as pessoas que conheci e que viabilizaram o “Clarices”, apareceram rápido. Fui fazer um curso na Cia. Das Letras no Flamengo, no Rio e conheci meu querido professor e amigo Godofredo de Oliveira Neto (ele que escreveu a orelha do meu livro). Acho fundamental para um escritor, trocar suas impressões com outros escritores mais experientes. Se não, ficamos presos na nossa timidez e julgamento próprios e não nos damos a chance de sermos melhores. Eu sabia que faltava (e ainda falta) muito para que eu ser uma grande escritora, cheia de estilo e novidade, mas com toda a minha vontade de crescer, me aventurei e levei meu Clarices para uma sala de aula. Um dos meus colegas era o Claudio. Ele me disse que o irmão dele estava de editora nova. Pequena, mas séria. Mandei meu texto para o Marcus e ele quis publicar. Ainda por cima, a Valéria Martins, escritora e agente, me ajudou muito após a publicação na divulgação do Clarices nos blogs. Eu estava bem amparada e me sentindo com sorte.

Que bom! Então, como você se sentiu ao ver seu livro finalmente publicado, tipo, no dia de lançamento?
Cheguei na Livraria da Vila em São Paulo, sozinha. Tinha uma mesa grande com o Clarices num apoio, revelando a capa para quem quisesse ver. Parei em frente a mesa e fiquei olhando aquele “filho”. Pensei: agora todo mundo vai saber o que escrevi. Me senti nua. Lançando minha obra ao vento e torcendo para que ela voasse. Fiquei mais nervosa do que na estreia de uma peça. É algo inexplicável. Naquele dia, eu me orgulhei de todo o meu trabalho e sentimento que agora estavam escritos ali dentro. Como se, naquele momento, o meu filho, tão meu, tão bebê, saía de casa para viver o mundo. Olhava tantos outros livros na livraria e me emocionei ao me dar conta de que o meu estaria ali, entre eles, naquela noite.

E quando um fã seu vem lhe pedir um autógrafo, foto ou algo assim, como você se sente? Já havia lhe passado essas coisas pela cabeça, imaginar chegar a esse ponto de fazer algo que encante pessoas assim?
Olha, você sabe que as pessoas que gostam do meu trabalho hoje, são muito educadas e me enchem de carinho. Tenho poucos fãs porque não sou famosa. Mas gosto muito quando um desconhecido elogia meu trabalho e torce por mim, vendo o meu potencial. Agora que isso começou a acontecer. Eu também faço isso. Elogio pessoas que não conheço quando gosto do trabalho. E também tem os amigos, que me mimam muito com os elogios e gostam do meu caminho. O público é o mundo. E um artista sem público é um poeta solitário. Espero ter um bom público até o fim da minha vida.

Concordo plenamente. Na escola, você gostava muito de português e literatura?
Sim, minha mãe era professora de português. Aprendi a ler e a escrever com ela. Eu já gostava de fazer redações, escrevia no diário... O amor pela literatura mesmo veio mais tarde. Quando criança eu só queria saber de dançar.

Você tem algum gênero literário favorito?
Não. Leio tudo. Estou começando a perceber o que não gosto. Ainda não tenho favoritos, mas já começo a perceber o que não gosto.

Algum autor ou livro em especial que lhe influenciou na escrita?
Clarice, Virgínia Woolf, Hermann Hesse, Marcelino Freire, Godofredo de Oliveira Neto, e outros que descubro a cada livro e me abrem possibilidades.

Uau! Ainda esse ano, tem algum grande sonho ou meta que pretende alcançar?
Sim, um programa de televisão para crianças, que criei junto com Edu Capello, um amigo artista e sonhador como eu. E também um livro e uma peça de teatro que pretendo escrever. Tá fácil, né? (rs)

Sério? Que legal! =D
Pretende continuar publicando outras obras?
Sim. Com certeza. Romances, peças...

Você considera sua obra como sendo de qual gênero literário?
Romance meio prosa poética, meio fluxo de pensamento, meio ficção, meio realidade, meio sonho, meio Clarice, meio Luciana, meio mundo, meio arte, meio livro, meio diário, meio blog, meio menina, meio mulher, um meio pra se descobrir. 

*risos* Gente, que delícia de entrevista! Muito obrigado, Luciana, pelas respostas tão sinceras e criativas.
Um beijo e obrigada pela oportunidade!

E quem quiser conhecer um pouco mais da Luciana, clica nos links:
Site novo: www.lubollina.com (com link para o blog e o site antigo);
Sites de vendas do Clarices: Travessa e Livraria Cultura ou mandado um e-mail para lu.bollina8@gmail.com
Página do livro no facebook, com resenhas e opiniões: https://www.facebook.com/pages/Clarices
Também, toda quarta às 22:30h no canal GNT, a Luciana está fazendo participação em muitos episódios da série "Amor Veríssimo".

Até a próxima, galera!

2 comentários:

  1. Essa foi uma ótima entrevista. Achei muito bom conhecer a Luciana, e ver a sensibilidade e criatividade dela, duas qualidades que admiro em um artista, seja qual for a área. Que bom poder ver entrevistas inspiradoras por aqui.

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    1. Também gostei muito de entrevistar ela. Esse quadro trará muitas entrevistas bacanas.

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Angel Lyla